Nave

“…no recondito obstinado
da memória…”

dorme intacto,
em seu primordial contorno
o milagre de um passado.
A luz oblíqua da lembrança
rompe a bruma, algum encanto.
Não mais o medo ou impedimentos.
Quase certeza, reconciliação.
O expediente diário
incorpora-se aos objetos:
a mão ávida na arca proibida,
saltos e sonhos na cama “patente”,
“viagens” sob a sombra da parreira;
nave nossa.

Ungido pelo halo
de uma luminária na parede:
o patamar da escada,
nosso palco, nosso balcão.
Travessias/ travessuras.
Num canto escuro,
furtivos,
visitamos as frestas de nosso corpo.

Chão de tábuas,ladrilhos
guirlandas de gesso
restauram
o vitral de uma infância.
Água furtada,
água benta,
água de bilha
matam minha sede de ser só.

Minha mãe cirze sua dor
sobre um ovo de madeira
que,
por não quebrar
apazigua.
por nada revelar
intriga.

No recôndito da memória
navego obstinada
nesta,imponderável, casa.